Foto de brasileiros contextualizando a crise dos 30 anos no Brasil.

Crise dos 30 anos no Brasil: nosso contexto cultural

A crise dos 30 anos no Brasil é diferente do resto do mundo. Saiba aqui o porquê.

A crise dos 30 anos no Brasil reflete uma transição cultural

A crise dos 30 anos é um fenômeno específico da cultura ocidental, tendo como raiz a busca pelo bem-estar financeiro, vaidade material, e a rejeição do envelhecimento herdados da sociedade capitalista norte-americana.

Só que a crise dos 30 anos no Brasil ganha contornos únicos porque nossa cultura valoriza a conquista de marcos sociais, ignorando os desafios específicos à maioria dos brasileiros, sendo os principais:

A expectativa de alcançar os marcos sociais até os 30 anos é tão reforçada na nossa sociedade, que mesmo as pessoas que ainda vivem com os pais e que estão na faixa dos 25 a 34 anos (totalizando 25% da população brasileira, segundo a Fetraconspar↗) costumam construir a própria família ainda sob o teto dos parentes.

Tais valores, combinados com os desafios econômicos e sociais característicos da globalização em um país tão pobre, tornam a crise dos 30 anos especialmente intensa para brasileiros vivendo a transição do núcleo familiar como prioridade, à necessidade de construir (e manter) carreiras que exigem quantidades enormes do tempo de um indivíduo.

Este artigo te ajudará a entender como a nossa cultura influencia essa fase difícil, e como transformar tais desafios em oportunidades de crescimento com independência emocional.

Reportagem em vídeo do programa Panorama de 2018, mostrando o crescente número de jovens morando com os pais em um fenômeno social apelidado de “geração canguru”.

O que é a crise dos 30 anos no Brasil

A crise dos 30 anos é uma fase de questionamentos sobre as escolhas da vida, envolvendo relacionamentos, carreiras e propósitos. É como se um espelho fosse colocado na nossa frente, refletindo negativamente:

Expliquei mais sobre essa crise de identidade no artigo “O que é a crise dos 30 anos, sintomas e causas”.

No Brasil, onde a cultura do “sucesso antes dos 30” está cada vez mais forte por conta da internet, a crise dos 30 anos é exacerbada pela pressão para atingir marcos ainda mais específicos à nossa cultura, como:

De acordo com uma pesquisa da Fiocruz↗ realizada entre 2020 e 2022, a maioria dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos sofre diariamente com a pressão para atingir tais objetivos materiais antes dos 35 anos. Poucos conseguem.

As pressões são tão intensas, que o núcleo de jornalismo da IESB publicou um artigo detalhado↗ citando o conceito de “adultez emergente”, usado por psicólogos para descrever os efeitos dessa transição complicada da adolescência para a vida adulta entre pessoas de 18 aos 29 anos.

Essas crises de identidade estão cada vez mais presentes na realidade dos brasileiros por conta da situação socioeconômica particular do nosso país, e exacerbadas pela predação abusiva das redes sociais sobre a mente dos jovens e adultos em formação.

Foto mostrando o Instagram, uma das redes sociais que têm contribuído para a crise dos 30 anos no Brasil.
Cuidado com as redes sociais: elas têm intensificado a crise dos 30 anos no Brasil.

Sintomas da crise dos 30 anos específicos aos brasileiros

Publiquei um guia extenso mostrando quais são os sintomas da crise dos 30 anos e como superá-los, mas no contexto brasileiro, alguns sinais da transição são especialmente marcantes, sendo eles:

Insatisfação profissional

Muitos brasileiros percebem que as carreiras que escolheram (ou nas quais foram inseridos por necessidade) não oferecem um propósito ou recompensas financeiras adequadas para pagar as contas e manter um estilo de vida saudável.

Em um mercado de trabalho competitivo e instável, essa insatisfação, somada ao medo de não ter um teto sobre a cabeça ou fundos suficientes para pagar por emergências, parece crescer a cada ano.

Pressões familiares e sociais

A cobrança para casar, ter filhos e atingir estabilidade financeira, pesa tanto para alguém nos 20 quanto nos 40 anos em um país centralizado na ideia tradicional de família como é o Brasil.

Seja em reuniões familiares ou em celebrações com conhecidos, é comum ouvir perguntas invasivas do tipo:

Instabilidade financeira

O sonho da casa própria e a pressão para “ter tudo” antes dos 30 anos contrastam com a realidade dos salários baixos e custos de vida elevados.

Por conta do mercado instável, ter um diploma, um emprego ou carreira no Brasil, não se traduz em segurança ou estabilidade financeira, obrigando nossa nação a trabalhar até mesmo depois da aposentadoria.

Piorando esse cenário, 2 em cada 3 brasileiros nunca aprenderam sobre educação financeira para tomar escolhas conscientes em relação ao dinheiro, a investir ou a guardar grana para situações de emergência.

Segundo a S&P Global Financial Literacy Survey↗, só 35% dos brasileiros foram alfabetizados financeiramente, deixando nosso país na posição 67 dentre as 143 nações avaliadas.

Ainda mais louco é que mesmo entre os brasileiros autônomos que faturam até 81 mil reais por ano, 77% nunca participou de cursos voltados para o gerenciamento econômico↗, deixando óbvia a falta de preparação até mesmo entre os empreendedores.

Desejo de recomeçar

Para muitos, a disparidade entre as expectativas e a realidade traz uma vontade urgente de mudar tudo de uma vez (seja de emprego, de cidade ou de estilo de vida) na busca por mais liberdade e autenticidade.

Esse foi um dos sintomas mais marcantes da minha crise dos 30 anos, quando abandonei meu emprego, os meus amigos e familiares, na busca por “começar de novo” em uma cidade diferente.

Meu guia sobre “Como mudar de vida aos 30 anos” trata desse sintoma de maneira aprofundada, ensinando quando e como recomeçar na vida sem destruí-la no processo.

Já meu tutorial sobre “Como mudar meu jeito de ser” é mais focado em realizar mudanças internas em vez de externas, então recomendo ambos se o seu maior problema hoje for o desejo por descobrir como mudar de personalidade ou rotina.

Meu livro “Bem-vindo aos 30 anos: Guia rápido para chegar bem (e sobreviver) aos trinta anos” oferece mais ideias para superar os sintomas da crise e criar uma vida que vale a pena ser vivida em qualquer idade. Leia aqui.

Comparação nas redes sociais

O Brasil ocupa a terceira posição dentre os países que mais usam as redes sociais no mundo, ficando atrás da Índia e da Indonésia com 131,5 milhões de usuários conectados, conforme um levantamento da Comscore publicado pela Forbes↗.

Como se não bastasse, brasileiros ocupam o segundo lugar mundial quando se trata de tempo gasto na internet, totalizando a média de 9 horas e 13 minutos diários, de acordo com o Global Digital Report de 2024↗ publicado pela We Are Social.

Como as idealizações da vida “certa” são herdadas da cultura na qual estamos inseridos, fica óbvio que parte do aumento nos casos da crise dos 30 anos no Brasil tem origem na utopia da “rotina perfeita” apresentada por celebridades, influenciadores, e até pelas pessoas comuns no círculo social dos brasileiros.

Como a tendência desses usuários é a de dividir nas redes sociais apenas as vitórias e os luxos de uma vida “bem vivida”, jovens e adultos confundem essa ilusão com a vida real, se tornando menos satisfeitos com o estado atual das próprias rotinas em comparação com a felicidade instantânea nas vitrines do Instagram e TikTok.

A participação nesse tipo de dinâmica digital, quase sempre falsa e superficial, amplia (e às vezes causa) todos os males e sintomas que descrevi até agora.

No vídeo “Vida sem redes sociais”, falei sobre o porquê de eu ter deletado o Instagram e as consequências dessa escolha na rotina.

Como transformar a crise dos 30 anos no Brasil em crescimento

Mesmo sendo desafiadora, a crise dos 30 anos pode ser o ponto de partida para uma transformação profunda na sua vida. Acho que parte de você sabe disso, caso contrário não estaria sentindo necessidade por mudança.

Aqui estão algumas estratégias para navegar nessa fase sem perder a cabeça.

1. Questione suas expectativas sociais

Há uma tendência cultural no Brasil de medir o sucesso por padrões como casar, ter filhos e conquistar estabilidade financeira cedo; mas essas metas podem não refletir os seus verdadeiros desejos.

Para distinguir a pressão vindo de fora do ímpeto que nasce de dentro, reflita por um momento ao se perguntar:

Reconhecer a diferença entre crenças internalizadas e os seus verdadeiros ideais é o primeiro passo para traçar um caminho mais alinhado com seus valores e autenticidade.

2. Invista em novas habilidades

Se você busca uma transição de carreira, aprender coisas novas e se abrir à possibilidade de que você é mais capaz do que imagina, é fundamental.

É o que a psicóloga Carol Dweck chama de mentalidade de crescimento: a crença de que é possível aprender qualquer coisa via um misto de esforço, flexibilidade, paciência e periodicidade.

Minha dica é prestar atenção ao mercado digital que, como deu para ver nos dados que apresentei sobre as redes sociais, está em crescimento frenético e com inúmeras oportunidades.

Redação, marketing digital e design gráfico são só algumas das áreas com demandas cada vez maiores no Brasil.

Quanto mais cedo você começar a transição para essa área, maiores serão as suas chances de ser altamente remunerado, uma vez que o setor digital é sustentado pelo rápido domínio sobre as novidades tecnológicas.

Você pode mudar de carreira agora mesmo, trabalhando de home office sem depender das redes sociais, usando meu manual de “Como Ganhar Dinheiro Escrevendo na Internet”.

3. Reavalie suas prioridades financeiras

A cultura brasileira valoriza conquistas materiais como símbolos de sucesso, mas isso pode gerar um estresse desnecessário e montes de dívidas.

Caso você não seja muito bom com dinheiro, recomendo pesquisar na internet o básico sobre educação financeira, como:

Reorganize suas prioridades financeiras e foque no que realmente importa para você, ignorando o que as pessoas ou os anúncios dizem que você deveria comprar ou consumir para aliviar o estresse causado pelas incertezas econômicas.

Já que pequenos ajustes na sua relação emocional com o dinheiro podem trazer mais tranquilidade, acho fundamental ler o livro “Psicologia financeira”↗ se você nunca pensou nas finanças como extensão do seu estado mental: no qual, quanto pior, menos grana sobrando na conta.

Caso você já tenha dinheiro e queira aprender sobre investimentos, recomendo ler um livro curtinho chamado “O caminho simples para a riqueza”↗. Algumas dicas nele só se aplicam para quem vive nos Estados Unidos, mas a edição brasileira aponta alternativas interessantes para quem pretende investir no Brasil.

Esse é o básico, então a partir daqui você precisará pesquisar um pouco mais para tomar decisões inteligentes em relação às suas economias e o seu poder de compra para viver a vida dos seus sonhos.

4. Encontre (ou invente) seu propósito

Muitos brasileiros na crise dos 30 anos descobrem nessa fase um desejo por algo maior do que as metas materiais. Sabendo disso:

Projetos voluntários e passatempos em grupo podem ser um bom começo para tornar essa visão uma realidade (no caso de propósitos mais altruístas), além das mudanças no seu jeito de ser e da decisão de retomar uma paixão criativa abandonada (no caso da satisfação individual).

5. Reduza o consumo de redes sociais

The International Journal of Indian Psychology publicou um estudo↗ em inglês apontando como as redes sociais criam a ilusão de perfeição que pode amplificar ou alongar crises de identidade em qualquer idade.

É por isso que recomendo que você limite seu tempo na internet e use essa energia para construir conexões reais, investindo parte da sua atenção em atividades no mundo físico que tragam algum tipo de satisfação.

Praticar esportes é um dos jeitos mais fáceis e baratos de conhecer gente nova, participar de uma comunidade, e ainda se ocupar com um tipo de atividade extremamente benéfica para a saúde física e mental.

Meu vídeo “15 razões para sair do Facebook e Instagram” tem 1 milhão de visualizações, falando como as redes sociais te usam como produto.

A crise como um ponto de virada

A crise dos 30 anos no Brasil reflete tanto as pressões culturais quanto as mudanças internas que todos nós enfrentamos.

Apesar disso, essa fase pode ser vista como uma oportunidade para reavaliar prioridades, se reinventar, e construir uma vida alinhada com os seus valores mais íntimos.

Lembre-se que a sua definição de sucesso não precisa seguir um roteiro predeterminado.

Com autoconhecimento, aprendizado e coragem para recomeçar, você pode transformar esse momento em uma nova fase: repleta de significados e alegrias.

Bora transformar sua crise em um ponto de virada? Leia os e-books “Como Ganhar Dinheiro Escrevendo na Internet” e “Bem-vindo aos 30 anos” para começar hoje a sua jornada de transformação!

Se gostou desse guia, talvez você curta ler:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *